sábado, 9 de junho de 2012

Mãe e solidão.





Minha gravidez foi linda, me sentia a pessoa mais radiante, abençoada e especial da face da terra, era como se eu estivesse conectada ao universo, sentia cada vibração do meu corpo em transformação, da vida florescendo, não senti as bads da gravidez, meu cabelo ficou brilhante, sedoso, cresceu!!!! as unhas fortes, a pele lisa e luminosa, enfim...me sentia linda, maravilhoa, exibindo minha barrigona por ai.
Meu parto não poderia ter sido mais bonito, adorei a sensação de dar a luz, curti cada contração, vivi de maneira intensa tudo aquilo, não lacerei, não tomei medicamentos, não senti dores, sai do hospital com orgulho e meu filho nos braços, sorriso de orelha a orelha e peitos cheios de leite.
Não tive depressão pós parto, a ligação rolou desde o primeiro segundo do ladicá, meu filho pegou o peito e mamou com vontade desde o primeiro minuto de vida, tudo estava lindo, tudo foi lindo, se não fosse alguns detalhes que a gente não lê no livro, coisinhas que nenhuma mãe conta, aliás, ninguém fala.

Tenho escrito a respeito desde o nascimento do Gael, e hoje, depois de assistir ao video, o tema não me sai da cabeça de jeito maneira, a solidão de ser mãe, é um tabu do cacete e algo tão natural.
Criei em meu imaginário, (e olha que ele é bem trabalhado e aberto), que depois que meu filho nascesse, a vida seria bela, (todos os dias), eu e maridón felizes e em sintonia eterna, tudo fluindo e lindo...massssssss, a realidade é outra, não que seja cruel, mas depois de anos criando um ideal de vida em familia, vida de mãe, fica dificil encarar que aquilo lá, era no minimo pose pra foto de revista.

Ter um filho muda a vida em todos os sentidos, os amigos somem,ao menos aqueles que saiam pra balada e bebedeira, ou seja, aqueles dos últimos 27 anos, a familia palpita demais e pra piorar, toda mãe que a gente encontra pelo caminho, relata maravilhas dessa fase inicial, nenhuma filha da mãe teve bebê com cólica, os bebês dormiam a noite toda, o bico não rachou, os maridos ajudavam que era uma maravilha, ninguém teve noite em claro...ahãmm...os as filhasdaputa fazem de pirraça, ou se esqueceram mesmo, afinal essa parece um mecanismo da natureza para a procriação...fanfarrona.
O fato é que, senti um solidão tremenda, de dá medo, estava feliz, muito feliz, mas me sentia sozinha, ali no meio da madrugada, com meu tesouro precioso nos braços, a sensação é que ninguém na face da terra estava tão cansada como eu, mãe recém parida, a vida a dois começa entrar em um parafuso medonho, um sempre se sentindo mais cansado que o outro, a mãe porque, oi!, é mãe, vira madrugada, dá de mama, não come na hora certa, toma banho correndo e ouvindo em sua cabeça o choro do pequeno,(juro que cheguei a desligar o chuveiro umas 10 vezes em um único banho, só pra me certificar que ele de fato não estava chorando), a mãe não consegue respirar, de verdade, e quando o marido pega o bebê na tentativa de ajudar, no primeiro choro, traz de volta correndo, alegando, é claro, que ele quer mamar, a verdade é que ninguém tem a paciência (saco) da mãe, no final, sobra tudin pra ela, e isso demorou entrar na minha cabeça. Já o outro, está cansado porque trabalha mais, afinal, agora tem uma familia para cuidar, trabalha mais pois a mulher não está trabalhando, dada a condição recém parida, também não dorme direito, ainda que consiga ficar ali deitadinho, fingindo de morto quando o bebe acorda, e o marido cansa de escutar a mulher reclamar dessa surpresa da maternidade, enfim, o bicho pega.
Aquela conexão da gravidez cai pelo cano, eu me senti em uma ilha deserta, sem contato com o mundo exterior, e isso nada tem haver com a quantidade de visitas recebidas, ou apoio familiar, a solidão que se sente é aquela, do meio da multidão.
Juro, que toda vez que saía, ou pra pagar uma conta correndo, ir comprar alguma coisa, observava criteriosamente todas as mulheres que encontrava, algumas bonitas, unhas feitas, cabelo escovado, não conseguia resistir, imaginava se tinha um bebê em casa, se ela, assim como eu, estava ali correndo, com a cabeça lá, no pitoco, ou não, ela nem sabe o que é a vida de uma mãe, assim como eu não imaginava a pouco mais de um ano, e quando alguma conhecida ganhava bebê, um risinho malicioso tomava conta de mim, tipo, ahhhhh, não sou a única!!!!
E ai, que parece que essa fase nunca vai passar, e não é que passa, ou pelo menos nos acostumamos com a idéia, o pitoco começa a virar gentinha, brinca mais, ri mais, dorme mais, e a vida vai entrando no eixo, seguindo seu caminho com mais cor e a tranquilidade parece rondar novamente, e ai, sabe o que a mãe (não tão recém parida assim) faz?? Começa a planejar a próxima gravidez, jurando que da próxima vai tirar de letra.

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