segunda-feira, 26 de julho de 2010

Delicadeza.


Quando criança, ela era medrosa, chorava de medo, tremia a cada trovão, nunca havia quebrado o pé, o braço, ou qualquer membro, não adoecia, não sentia dores e ainda assim temia a vida.Os anos se passaram e no auge de sua adolescência, como um pecador a se castigar, tentava buscar a dor, amores despedaçados, vida desregrada, só para poder compensar aqueles anos de laço na cabeça e bunda no sofá, olhando a vida passar pela janela com medo de provar e gostar. Aos poucos, percebeu que não teve culpa disso tudo, que foi assim e pronto, e nesse momento, a delicadeza que existia em seus passos se desfez de uma só vez, e se tornou o que é hoje.
Hoje, ela é um tropeço em pessoa, gestos grandiosos, fala alto, xinga e fala palavrão, ri de si mesma, ri dos outros, faz piada, acorda descabelada e definitvamene não leva jeito para lidar com cristais, louças e afins delicados, ela já tentou ser fina, gestos graciosos, voz pausada e uniforme, andar elegante, ahhh coisinhas cor de rosa, que parecem mais a piada em seu corpo...em vão, se entristeceu vez ou outra por ser assim, meio esquisita, gosta de coisas antigas, canta no chuveiro,canta na estrada, só pra distrair, escreve para se sentir viva, fotografa por amor ao que vê, guarda papeis desnecessários, e lá no fundo tem mania de organização, descobriu que coleciona óculos antigos, e o coração chega a dar camalhotas se for de uma pessoa que já morreu,adora flores por toda casa,incenso, meditação e yoga, ama animais, e vez ou outra tem quase certza que os seus falam com ela, sente as suas vozes dentro de si, e adora, lê, e chora com o final dos livros, sonha e acorda perdida no próprio quarto,se emociona ao ver crianças, mas odeia criança em restaurante, se imagina com os9 meses, barriga empinada e orgulosa, valoriza coisas pequenas, cartas, blhetinhos e olhares de surpresa, gosta dos detalhes, mãos, orelhas, fotos recortadas, pedaços...
E quando ela se deu conta de como seria se descrever, percebeu que a delicadeza sempre a acompanhou, ainda que falando alto e vez ou outa um palavrão, que existia delicadeza em sua risada escandalosa e seu andar de 1,75, a delicadeza sempre se fez presente nos tropeções e principalmente nas manhãs descabeladas...sendo assim, respirou aliviada, se olho de canto de olho, se olhou de fora pra dentro sem receios, e ali, inteira e fluida, se viu, se reconheceu delicada reconheceu delicadeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário