quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sem pé nem cabeça.


Por ter nascido dia 01, ela de maneira inocente e equivocada, esperava ser lembrada de maneira mais fácil, ao menos, a contagem dos anos sempre foram mais simples, ao contrário, as pessoas se esqueciam, viajavam, e sempre estavam bebadas.
Sempre adorou a palavra goma, lantejoula, gude, enchantée e tantas outras que enchem a boca de água, as tardes de outono, o frio com o sol, toureiros levando chifradas, boiadeiros sendo pisoteados , sempre amou, assistir filme a tarde, abacaxi congelada, vitamina de banana, maquiagem de manhã, cabelo ao vento, sempre gostou de cortar o cabelo, guardar pedaço de papel, papel de chiclete, ou qualquer coisa que traga recordações, nunca gostou do culote herdado pela mãe, e dos joelhos tortos herdados do pai, sempre quis ter uma história de amor na familia, sempre sonhou em ter histórias de familia, familia unida e objetos de herança, a pouco conseguiu seu primeiro, um bule de sua tataravó, que deu pra sua bisa que deu pra sua vó que te deu, e chorou, colocou em seu altar, junto com heranças roubadas, uma flor e john lennon.
Sua vida é leve, com muito peso e algumas mágoas, mas ainda assim ela é leve, com suas marcas e manchas escuras, ora desbotadadas, mas ainda assim coloridas...ela se descobriu encantada pela vida ainda nos dias que a vida parece não fazer sentido, pelos pequenos prazeres, pelas pequenas coisas, pelas coisas certas, seja o papel de chiclete, seja por suas tardes de outono...

2 comentários:

  1. Gostei muito... e identifico-me com várias coisas que aqui escreveste. Esta passagem tocou-me especialmente: "sempre quis ter uma história de amor na familia, sempre sonhou em ter histórias de familia, familia unida e objetos de herança".

    :)

    E obrigada por seguires o meu blog!

    ResponderExcluir
  2. Augusta, olá
    Gostei demais de seu texto. De uma forma brilhante, você desvenda o universo dessa mulher (será ainda uma menina?) com as coisas de sua alma, de seu dia a dia, de suas contestações aos que os homens fazem, de sua queda pela contradição, dos seus sonhos de família envoltos nos ranços de família... Aliás, o ser essa personagem contraditória me fez buscar no perfil de sua criadora, e achar lá, logo na segunda palavra, a origem dessa classificação – a própria autora (desculpe, fui vasculhando...).
    O texto é magnífico, e certamente um livro viria por aí, na continuidade desse texto muitíssimo agradável. Talvez, o ápice do livro fosse a vida atual dessa mulher-ou-menina, ou sua descoberta do amor, ou o que você quisesse criar, porque a história é sua e aqui estou eu metendo o meu nariz na panela de doces de outro. Mas, veja com isso o quanto gostei!
    Um abraço carinhoso
    Marcelo Bandeira

    ResponderExcluir